Supostamente ondas de 2 metros e vento moderado. Sol. Praia cheia. E véspera de exame.
“ – Shame on you, Lara Ariana! Vai estudar!”
Ao fim da tarde, o Ivo e o João perguntaram-me se queria ir para a água com eles!
Por quatro grandes motivos não podia recusar:
- Pela simpatia deles em se lembrarem de mim,
- pelo convite deles,
- pelo mar, azul, fascinante e inigualavelmente belo
- e pela minha vontade, obsessiva.
Enquanto os esperava, já vestida e pronta, cruzei-me com um colega que não via desde há muito. Pareceu-me abatido e vazio. Ansioso por falar, sem ser de outras coisas para além das que o consumiam.
Deixei-o falar.
Ouvi-o.
“ – Tive de fugir. (disse ele) Estou numa auto-caravana, na zona de Lisboa. Foram 7 anos de namoro, Lara! E afinal, havia outro…”
Sem interesse nos pormenores perguntei-lhe como estava a reagir e, se passados dois meses desde a separação, já tinha passado tempo suficiente para não estar destroçado e reencontar o caminho.
- “Não. É como uma droga! Não me parece que vá passar…”
A conversa que estavamos a ter foi interrompida pela azáfama e simpatia dos bodybords que chegavam. E lá fomos para a água.
Agora, depois de ter saído do mar, derrotada pela corrente, estou sentada num banco, de bloco e caneta na mão.
-“ Não, não vou estudar! Vou escrever sobre eles os três, e sobre (a dor de) amar”
Lá ao longe, mesmo no pico azul e espumoso, está o Ivo e o João. No exacto sitio onde eu queria estar, mas onde chego e não consigo permanecer muito tempo.
Á minha frente, de pé na areia, está o meu colega. Parado, a olhar o horizonte. A perder-se num vazio inexplicável e que se sente daqui. Julgo que ele não vê o mesmo que eu. Está no exacto sítio onde me esforço por não estar, e onde de quando em quando sou obrigada a habitar.
O sofrimento dele é atroz. Cheira-se daqui. Mais forte que o odor inebriante da maresia...
Passo o meu pensamento por todas as pessoas que me são próximas e reparo, que a maior parte delas, está de pé, plantado à beira mar… a sofrer de forma atroz.
E infelizmente, parece-me que a maior parte deles já nem sabe bem porquê. Limitaram-se a cair naquele estado de alma, a deixar-se levar cada dia mais fundo, e a lá permanecer.
Talvez o estado deprimido seja mesmo uma droga!
Talvez meses não curem feridas.
Talvez nem a distância forçada leve as lembranças, nem os laços de uma vida desfeitos, nem traga a esperança de volta…
Do que a vida me ensinou e por muitos exemplos, antagónicos (de luta), nomeadamente, de cada um dos meus pais e da meia dúzia de seres humanos, dignos desse nome, que encontrei até hoje e por uma frase que relembro,da minha mãe:
“ - Só há uma forma de sair "do buraco". É bater no fundo mais fundo, e voltar de lá sem que ninguém te dê a mão!”
Suponho então que amar, sofrer, e sobreviver (em alternativa a morrer de amores), seja um processo individual, consciente e inevitavelmente doloroso.
Mas...
Bem mais doloroso que ter a dor, é sair dela!
Bem mais digno que esconder a dor, é assumi-la!
E se te doi... estás vivo!
E se estás vivo, isso é que importa!
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