...REJOI AND BE GLAD...

Quero acreditar que os milagres acabam por chegar! Quando nem sempre os esperamos, mas quando mais precisamos deles! Chegam com a mesma intensidade com que os queremos receber... e com a dimensão exacta do que fizemos para os merecer!

1.7.08

O Ladrão d"água


Nao podia iniciar o blog, sem fazer referencia ao "Ladrão d"água". Para quem me conhece, sabe o que significa, no seu todo e no seu nada...
Começa assim, em dedicação:

" Este livro foi escrito para as pessoas que mais amo…
Para as que surgiram na minha vida, ainda que por um só segundo, e que ainda assim a inundaram de luz…
Para aquelas que surgiram na minha vida e algum tempo depois saíram dela, deixando parte de si e levando uma parte de mim…
Principal e especialmente, para aqueles que surgiram na minha vida e que, num acto de coragem e amor infinitos, ficaram até hoje!
Para eles, esses, os que nunca deixaram de me amar e que me aceitam tal como sou, dirijo cada palavra e cada segundo que aqui se escrevem!
Amo a coragem que têm! Amo tudo o que são!
Aos meus pais, os seres mais maravilhosos que a vida poderia ter posto no meu caminho, dedico esta história. Porque ela é uma parte de mim, e porque a eles devo tudo o que sou!
É uma homenagem, humilde e sentida, à sua coragem, à luta, à força e ao amor infinito que colocam em tudo o que fazem."

E rasgo uma folha ao livro...
... e coloco-a aqui:

"Uma hora depois, estava ela sentada no banco do gabinete do chefe da estação à espera que chegasse a polícia. Como ele já não tinha paciência para a ouvir, deixou-a à vontade e disse que ia sair, para lhe ir buscar um copo de água com açúcar.

Quando o polícia chegou, o copo de água ainda não tinha aparecido.
- Os seus documentos? Por favor! - Pediu a certa altura o agente, depois de ter anotado a ocorrência.
Foi a gota de água! Em completa histeria, desatou a insultá-lo!
- Fui roubada! É burro? Não tenho os documentos, nem a carteira, nem dinheiro, nem telefone, nem computador, nem roupa! Nada!
Ele, calmamente, convidou-a então para o acompanhar à esquadra para ser identificada, numa nítida atitude de se impor.
E mais argumento, menos discussão, ela decidiu nem apresentar queixa em troca de ele a deixar em paz e ele, simplesmente, aceitou.

Sem ideias ou motivos para sorrir, sentou-se no balcão do café da estação a tentar pensar numa forma de se safar da situação. Vasculhou o bolso do casaco. Os trocos do táxi, um maço de lenços e o bilhete! Mais nada!
- Deseja alguma coisa? - perguntou uma rapariga atrás do balcão.
- Não obrigada! Estou só a descansar!


A rapariga, que era bastante bonita e tinha os cabelos invulgarmente compridos, voltou aos afazeres e deixou-a sozinha.
Passaram duas horas.
- Não quer mesmo nada? - disse num tom simpático e já preocupado.
- Não, obrigada!
- Vou fechar agora...
A frase saiu-lhe num tom acanhado e receoso. Não é que a senhora sentada ali há tanto tempo tivesse cara de má, mas definitivamente não estava muito bem disposta.
- Sério?
- Tem fome?
- O que é que se come com isto? - disse enquanto arremeçou os trocos para cima do balcão e separou as moedas com a ponta do indicador.
- Se o patrão não vir: um copo de leite e um pão, dos que sobrou.
Ela agradeceu.
Enquanto comia, analisou a rapariga que entretanto fechou a porta da entrada e começou a varrer.
- Não é muito nova para trabalhar?
- Não quis estudar mais...
- E gosta do que faz?
- Até casar, vai ter de servir! Depois, logo se vê!
- Vai casar? Tão nova?
- Um dia, vou! Já tenho quase quinze anos!

Bateram à porta.

Era o chefe da estação.
- Encontraram a sua mala de viagem!
- Jure? - disse animada.
- Pois foi! Uma sorte!
- A carteira e o computador, também?
- Isso é que não! Só uma mala com umas roupas. Só deve chegar lá para amanhã.
Voltou a perder as estribeiras!
- Está a gozar-me, não? O que é que faço sem dinheiro? Sem roupa? Para que é que quero a roupa? Tudo isto se passou num comboio que é da sua responsabilidade! Faça alguma coisa! Não há seguro? Incompetentes! Isto é um país de incompetentes...
Continuou a extravasar a raiva e frustração por ter sido tão burra, e ele até a ouviu até ao fim, obviamente sem particular interesse.
- Relembre-me de uma coisa, minha senhora. Saiu do comboio porque quis e deixou as malas lá dentro porque quis. Certo?

Ela olhou-o em silenciaç.

- Pois, bem me parecia! Então, se estiver interessada em reavê-las, passe amanhã. Afinal, fiz a minha parte e já mandei que devolvessem as coisas. Mais uma coisa: é uma mal-educada!
E fechou a porta do café, na cara delas.

Desanimada, pousou os cotovelos no balcão e acabou de beber o leite.
- Os meus pais têm uma pensão. Se quiser...
- Não tenho dinheiro! - respondeu seca.
- Isso não é problema! É gente boa! Quando encontrar as suas coisas, acerta as contas com eles.
Obviamente não recusou a única alternativa que tinha a dormir na rua.
- Se esperar mais um pouco, o meu irmão deve estar a chegar e não precisa ir a pé.
- Tem uma caneta e um papel?
Ela estendeu-lhe o pedido, depois de vasculhar uma das gavetas, e Mi rabiscou um recado para a Leonor, mas dirigido a todos.
Antes de mais, desculpou-se por não poder comparecer no congresso.

Explicou resumidamente a situação.

Como não sabia números de telefone de cor para os contactar e como estava temporariamente sem dinheiro, optou por enviar a nota para o hospital.

Disse ainda estava bem e que assim que resolvesse as coisas, aparecia ou dava noticias.

Terminou com beijinhos para todos, todos mesmo!

-"E até ao meu regresso"...
Enquanto esperava pelo transporte, saiu e olhou em volta.
Não havia muita gente por ali. Na cidade era hora de ponta e devia estar a confusão de sempre. Mas ali não! Por cima do relógio da estação uma placa branca anunciava o nome da terra. Ao contrário do que pensava não era uma aldeia, mas uma vila. "Vila de Casal Unido"!
Achou irónico ter ouvido aquela expressão da boca de Lucas há umas horas atrás e pensou nele desejando que estivesse do lado dela naquele momento. De certeza que ele ia arranjar uma solução!

Procurou a máquina dos selos e introduziu a moeda, selou o envelope e colocou-o no marco!
- Lá se foram os trocados!

- O meu irmão! - disse a rapariga que se abeirou, apresentando-os. - É o Salvador! Esta é a...
- Mi!
- Ah, eu sou a Isaura. Vamos?
- Prazer! - respondeu ele.
Na saída da estação, Mi procurou um carro, olhando em volta.
- A senhora leva o capacete que eu sou mais pequena e vou no meio. - disse enquanto lho estendia.
- Vamos na mota?
- A menos que queira ir a pé! - gozou o Salvador. - Mas são uns quilómetros.
Não ficou mesmo nada satisfeita! Aquilo nem era uma mota! Era uma lata velha com um guiador e um escape!
Para ir mais protegida, a Isaura foi no meio e Mi sentada o mais atrás possível!

O caminho era interminável, acidentado, esburacado e cheio de curvas apertadas.
Para além do frio que lhe atravessava o corpo até cortar a respiração, foi o caminho todo com o rabo assente na grelha traseira, em metal.

A cada buraco, a mota batia seca na estrada, o que lhe provocou instantaneamente uma tremenda dor no traseiro e nas costas que durou dias.
Quando finalmente se avistou luz, depois de mais uma curva apertada, ele abrandou a velocidade. Atravessaram uma pequena ponte de ferro, depois um pequeno povoado e finalmente iniciaram uma subida a pique até uma enorme casa solitariamente assentada no cimo do monte.
Já era bastante escuro para ver os pormenores, mas o espaço pareceu-lhe habitável.

Lá dentro Isaura, num resumo rápido, explicou à mãe o que tinha acontecido e apressou-se a mostrar os quartos e a casa, enquanto a mãe se ocupou da preparação do jantar.
- Vai querer comer aqui ou lá em baixo? – perguntou, enquanto Mi se sentava no colchão para aliviar a dor das costas.
- Queria um banho quente. Estou gelada!
- Pois... Vamos ter de aquecer água no lume. Aqui não há caldeira ou esquentador. Não é como na vila. Aqui, a água ainda vem do poço.
I saura e a mãe trataram de tudo enquanto ela ficou a repousar, olhando o tecto desalentada.

Depois do banho regressou ao quarto e deitou-se uns minutos mas as dores das costas não permitiram que se mexesse mais. Quando a vieram chamar para jantar já não foi capaz de sair da cama. Nem nessa noite, nem nos dias que se seguiram.
Da cozinha, Mi ouvia uma grande agitação e ela não estava com a mínima disposição para fazer sala. Por isso, as dores até foram um pretexto para não ter de descer.
O guisado quente e gorduroso chegou num tabuleiro, trazido por Isaura, com um copo de vinho tinto e duas fatias de pão caseiro. Comeu apenas o pão, de tão agoniada que ficou com os cheiros, e adormeceu logo de seguida.

Na manhã seguinte também não conseguiu levantar-se e as dores aumentaram. Tivesse sido dos nervos, do frio da viagem ou de qualquer outra coisa, mas certo é que de repente estava atacada por todos os males e ainda mais alguma coisa. Gripe, febres altas, dores no corpo todo e um enorme desarranjo intestinal, que mal lhe permitia atravessar o corredor! (...) "


Mas... dai para a frente... tudo foi uma sucessão de milagres...

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